Hoje vou comentar o texto "A Morte da Modernidade" de Cristovam Buarque. A principio o texto parece um nhenhenhém, mas no final fica melhor.

Leia o texto completo aqui http://revistasera.info/a-morte-da-modernidade-cristovam-buarque/

Comento apenas alguns trechos que considerei, outros apenas aceno concordar. Em fundo amarelo e letras vermelhas o texto original, em azul o meu comentário.

"Até então, a ciência buscava entender a natureza. A partir do modernismo, passou também a transformá-la."
Então criar um vaso de argila ou até utilizar uma terra para agricultura não é transformar a natureza? Afinal ele está se referindo a ciência de modo ultra-genérico ou faltou diferenciar-lá de Tecnologia ? 

"o propósito da economia era garantir os meios de sustentação da vida, biológica e socialmente" Pra mim a economia nunca surgiu como um propósito em si. Foi apenas o meio adotado por alguns e aceito por muitos, que satisfazia seus anseios presentes e futuros. Não existia um plano global.

"A beleza da arquitetura moderna [...], do tipo MASP ou obras de Niemeyer [...] – caiu no hábito"

No hábito de quem? No Brasil é que não é, o que se vê em geral são caixotes de concreto sem graça ou edifícios simples.

Vamos a alguns exemplos:




Quando você pensa em um restaurante comum, usual,é algo moderno?


Afinal qual tipo de construção caiu no hábito? Acho que o autor do texto anda muito por Brasília...




"A escassez ecológica passará a considerar moderno o que for capaz de garantir conforto usando menos energia"
Argumento duvidoso para fato correto, não sei se é possível afirmar que será a "escassez ecológica" mas com certeza autossuficiência já é considerado mais "moderno" do que depender de ar-condicionado etc. 

Para quem assistiu aquele vídeo "A História das Coisas", vale apena assistir aqui a critica (em ingles e sem legendas infelizmente):


São quatro partes em que Lee Doren detona com o vídeo original. Não concordo com alguns dos seus contra-argumentos, mas de maneira geral o vídeo original é pernicioso e Lee deixa isso evidente.

"E pensar que no futuro isso aqui em baixo será considerado velho e o novo estará lá atrás, nas cidades que se renovarão em novo estilo"
Ledo engano, o que esta lá atrás (as cidades satélite) é ainda mais velho, é apenas uma versão moderna do caos da idade média com ruas estreitas, esgoto a céu aberto e violência desenfreada.
É reflexo da falta de planejamento, ou execução deste, e da ignorância alheia.

"Não será possível, no futuro, considerar moderno o transporte privado, com a esdrúxula lógica de filas engarrafadas de veículos pesando toneladas levando um único passageiro"
Mas é evidente que não será. Só um governo muito fora da realidade para dar incentivo fiscal (redução do IPI) para automóveis quando a maioria das cidades já se encontra com sistema viário quase esgotado. Em um país com disponibilidade abundante de água, própria para transporte marítimo e onde transporte coletivo é sinônimo de falta de qualidade, dar incentivo ao automóvel (sem fazer as devidas ampliações das ruas/avenidas e manutenção das já existentes) é um verdadeiro tiro no pé.

Só para ilustrar qual a politica publica do atual governo federal sobre bicicleta (lembrando que ICMS é estadual):



"Há limites até geométricos nos estacionamentos das cidades"
Bobagem, se pode construir para cima e para baixo, automatizar e otimizar o espaço dos estacionamentos. 
Além disso já existem veículos que ocupam menos espaço quando estacionados.
Vejamos exemplos:


O Hiriko é um protótipo de carro dobrável, assista o video https://www.youtube.com/watch?v=MONIa4zdLdY

Existe também um protótipo chamado Armadillo-T, desenvolvido na Coreia.



Assista o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=8DoZH7Y-sR0


Mas não é só isso, os estacionamentos também podem ser bem mais eficientes.



Famoso autotuerme, estacionamento vertical da volkswagen, em Wolfsburg (Alemanha).
Na Coreia existe um outro sistema, mais barato e simples, parecido com uma roda gigante.







"Os engarrafamentos e suas perdas de vida, seja por acidentes ou aprisionamento, o desperdício de combustível, a poluição emitida, estão esgotando o automóvel privado como indicador da modernidade desejada."
Calma la! Perdas de vidas podem ser limitadas e quase zeradas com automação dos veículos e melhorias na segurança passiva/ativa. Aprisionamento não, ok. Desperdício de combustível? E a que mais se destinam combustíveis fosseis? E se os carros forem elétricos? Pronto, já acabou a poluição também. E ainda assim, ainda que o automóvel seja publico ou mesmo transporte coletivo, nada disso impede acidentes, nem engarrafamento, nem aprisionamento e nem poluição. Então o problema não é o fato de ser privado.

"Hoje o consumismo se explicaria pela publicidade sintonizada com a biológica voracidade na ingestão de alimentos no passado pré-histórico, agora “comendo” os bens da indústria"
Pode se dizer que sim, o que falta é senso critico. A tentação sempre vai existir, se as origens são essas, não sei.

"O surgimento do moderno homem químico, dependente de drogas, é uma alternativa ao vazio existencial na modernidade"
Aqui não fica claro se o autor se refere ao uso desenfreado de drogas licitas ou aos dependentes de drogas ilícitas. Em todo caso se o que gera esse vazio é supostamente a vida moderna, certamente depois de adquirido o vicio esta já não tem tanta importância. Um viciado é um viciado em qualquer país, era ou regime.


"Uma nova ética deve surgir, que aceite a marcha rumo à dessemelhança da espécie ou recuse a apartação criada pela modernidade"
Com certeza deve, mas não sei se dessa forma. Não acredito que as coisas devam surgir obrigatoriamente aceitando preceitos A ou B. Só vai estar claro, quando houve um consenso maior e não uma imposição.

"a democracia nacional baseada na vontade de indivíduos formando maiorias esgotou-se"
Nem tanto..., estaria sugerindo uma outra forma de governo? É uma pena que nesse assunto o autor não se aprofundou... Afinal um homem de vida pública e metido na politica ha tantos anos poderia muito bem se estender mais nesse assunto.

"A utopia modernista – do consumo para uma elite com liberdade para consumir ilimitadamente em uma sociedade dividida; ou do consumo igual para todos, sacrificando a liberdade, em sua vertente socialista"
Lembram mais uma vez do governo reduzindo IPI (da linha branca, etc) para que os "pobres" também tivessem acesso aos "bens de consumo" ? Tirar alguém de uma situação de pobreza extrema, colocando numa situação de pobreza controlada como consumidor não resolve muita coisa. Até pior, pois as chances de uma pessoa sem acesso a educação de qualidade se tornar um consumidor consciente, são minimas.

Os princípios éticos que ele propõe no final me parecem muito legítimos e totalmente executáveis em uma democracia. É preciso sempre ficar atento aos que tentam se utilizar desse e outros argumentos para justificar uma empreitada pela utopia social que, sabemos só termina em totalitarismos.
Embora ele critique a democracia, não apresenta nada concreto sobre uma alternativa.
A maioria dos exemplos e contra pontos que ele faz são contornáveis pela tecnologia e a educação.